“Senhora das Marés” é o novo tema de Carla Pontes a ganhar vida

O videoclipe estará disponível no dia 26 de Julho.

Nascida em Alfama, era do alto de uma água furtada, que cantava para a vizinhança. 

Mestre em navegar por diferentes estilos musicais, foi no canto lírico que se sentiu realizada. Carla Pontes tem na voz o fado da infância, o pop e o rock da adolescência, e o lírico da mulher adulta. É a sua vulnerabilidade e presença marcante que transportam quem a ouve numa viagem de sensações transcendentes.

Ainda que a música tenha sido sempre uma constante, foi apenas em 2022 que lançou pela primeira vez  um trabalho autoral a solo. “O Mar em Mim”, desdobra-se em 11 faixas que bebendo da portugalidade nos temas com referência à alma portuguesa e à estética do oceano que banha a costa, explora uma estética neo-fadista, com travos da “world music” e um toque contemporâneo. 

Volvidos 3 anos, Carla Pontes dá agora uma nova vida a “Senhora das Marés”, o 10º tema do álbum, com um videoclipe que conjuga a estética presente num mar sonoro sem fim.

Estivemos à conversa com a intérprete que nos falou um pouco mais sobre este lançamento.  

Esta é a 10 faixa de um álbum com 11 temas. Qual foi o critério para escolher que tema usar para dar uma nova vida a este trabalho?

Eu já tinha videoclipes feitos para as faixas que também foram singles, os dois primeiros temas do disco "O mar em mim" e "Andorinha". 

No concerto de lançamento do disco, no auditório, em Lagoa, decidi aproveitar a ocasião e filmar o tema "Sorte ladina" por ser um tema diferente dos dois primeiros em termos de atmosfera e temática e também porque verifiquei que muitas pessoas se identificam com esta canção. Mais tarde lancei outro videoclipe para o tema "A luz do anoitecer". Este disco tem temas muito fortes quer em termos de mensagem ou musicalmente falando e para todos eles imagino videoclips. 

Os próximos temas que senti de fazer o videoclipe seriam "Lado Inverso" e "Senhora das marés". A decisão pela "Senhora das marés" foi feita pela videógrafa Rita Oliveira. Eu dei-lhe a escolher entre estes dois temas e ela identificou-se mais com a letra por ser um tema que fala da conexão com a mãe natureza ou com Deus, se assim entendermos, sendo também um tema muito feminino, que tem uma força misteriosa, que faz nascer, que acolhe. Então ela sentiu-se mais inspirada e eu confiei totalmente nessa inspiração.

A tua voz carrega o fado, o pop, o rock e o lírico. Como é que estas camadas coexistem em “Senhora das Marés”?

É verdade que durante o meu percurso musical naveguei e ainda navego por vários estilos musicais, embora agora menos. Acredito que a nossa voz reflete todas as nossas vivências, sensibilidades artísticas, inspirações, e também experiências vocais. 

Creio que neste disco é mais evidente uma influência de um canto lírico e pop. Eu cada vez mais vejo os estilos musicais aplicados ao canto como ferramentas para nos expressarmos como realmente queremos, principalmente se falamos de trabalho autoral e essa foi a minha ideia com o disco e continua a ser. Uma busca por uma expressão de um corpo sonoro próprio, em que obviamente se revelam influências e inspirações que ficaram gravadas na minha assinatura vocal.

O mar é um tema recorrente na tua música. De onde vem esta ligação entre o mar e a tua arte?

A água faz parte da minha vida de muitas formas, mas eu nasci em Alfama e cresci numa água furtada com vista para o Tejo e o rio era o pano de fundo para as minhas cantorias, os meus sonhos, as minhas alegrias. Mais tarde mudei-me para a Costa Vicentina, onde o mar tem uma força brutal e uma presença constante, como música de fundo. 

Sinto que a água e muito especialmente o mar é um elemento que me inspira, por me conectar com a meditação, com o espiritual, é uma energia que limpa, renova e enraíza. 

É um lugar de mistérios, profundezas, transparências, luz e escuridão. É muito simbólico e não me imagino a viver muito longe da luz que o mar e a água traz a um lugar. Sou capaz de falar com o mar. O mar é também um templo, sem paredes, como todos os lugares naturais.

As letras das tuas músicas assumem uma expressão muito onírica. É quase uma dança entre o misticismo, o poético e o metafísico. Qual é o processo criativo quando trabalhas com o Barqueiro para escrever um tema novo?

É verdade. Onírico, místico, metafísico, assim me sinto. É como se houvesse um mundo interior que tem essas características ou essas inspirações e assim se querem expressar. 

Gosto quando leio um poema que me coloca em silêncio, com um sorriso, ou uma pintura que me leva para um lugar ou um livro, enfim, essa sensação de nos maravilharmos com um lugar onde a arte nos coloca, é entrar na visão do outro. Estas temáticas foram muito conversadas com o Barqueiro, para que ele entendesse o meu universo e o que me inspira e logo aí houve a criação do ambiente propício a esses temas. 

Depois, o processo criativo em si surgiu ou partindo da letra sentindo o que ela pedia em termos musicais ou vice-versa. Fomos navegando tema a tema. 

Do lançamento de “O Mar em Mim” até agora, o que mudou em ti como artista?

Continuo a fazer concertos no âmbito da música clássica e isso é também algo que gosto de fazer e que sempre me traz desafios, mas o lançamento do disco colocou-me num lugar de questionamento do que eu queria dizer, de como eu queria me expressar, de como seria cantar temas próprios ou feitos para mim. E essa é uma busca constante, pois estamos sempre em movimento e mudança. 

É uma experiência muito bonita e enriquecedora cantar temas originais que se expressam no mundo pela primeira vez através da nossa voz! É incrível e dá vontade de continuar a criar. Quando deixamos de criar é realmente como se houvesse uma perda.


Quais são os próximos passos que tens pensado para depois deste lançamento?

Gostava de ter mais circulação deste disco antes de me dedicar a um segundo álbum, mas já começo a sentir vontade de seguir em criação, pois quanto mais canto este disco mais sinto o potencial criativo que ele próprio desponta. Então, sem nada ainda planeado, mas aguardando o momento certo.

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