“Esta obra é uma espécie de reinvenção” - “O Silêncio das Coisas Vivas” é o novo trabalho de Cláudia Tomé Silva
Cláudia Tomé Silva anuncia novo livro de poesia: “O Silêncio das Coisas Vivas”. A obra já está em pré-venda na nossa loja online.
A autora algarvia Cláudia Tomé Silva, conhecida pelo livro Emoções Bárbaras (2021) e pela sua presença ativa na cena poética da região, prepara-se para lançar o seu mais recente trabalho: “O Silêncio das Coisas Vivas.”
E ainda que demarcadamente diferente do primeiro livro, “O Silêncio das Coisas Vivas”, promete aprofundar a explorar as emoções humanas, mantendo a intensidade e autenticidade que caracterizam a escrita da autora.
Nascida em Faro, Cláudia Tomé Silva encontrou na poesia uma forma de transformar experiências pessoais em universais, refletindo sobre temas como emoções, identidade e memória. A par da escrita, Cláudia, é autora da rubrica “P de Poesia”, na rádio RUA FM e integra inúmeras performances poéticas com “Roer o Silêncio” e “Mulheres Que Escreveram e Não Li”.
Ao longo da sua carreira artística, destacou-se pela participação em workshops, sessões de spoken word, e pela ativa defesa do empoderamento feminino na arte bem como da igualdade e paridade de género.
Conversámos com a autora que nos explicou um pouco mais sobre este novo trabalho.
O "Emoções Bárbaras" aborda temáticas duras e negras enquanto "O Silêncio das Coisas Vivas", aparenta ser exatamente o oposto. Sentes que esta segunda obra é de certa forma, um renascer?
Eu diria que o "Emoções Bárbaras" aborda temáticas intensas, não necessariamente apenas duras e negras... Porém, concordo que havia um pendor muito catártico no meu primeiro livro. Havia uma urgência enorme de libertar, gritar, aliviar carga e dores reprimidas.
No fim desse processo, que vai muito para além do livro, sobrou imenso espaço vazio. O grito fez-se silêncio. E foi nesse surpreendente e novo lugar feito de espaço vazio e de silêncio que a minha escrita se foi transformando gradualmente em algo mais sereno. Mais respirado. Mais centrado. Mais observação e menos ansiedade. Menos raiva. Menos revolta. Mais reflexão. Menos explosão.
Nesse sentido sim, diria que esta segunda obra é uma espécie de renascer ou de reinvenção, que é uma expressão que uso muito para definir a minha forma de estar: já me reinventei muitas vezes nos meus cinquenta anos de vida e vou seguramente continuar a fazê-lo. Ainda assim, gostaria de ressalvar que este novo livro não é todo luz e sol. Há zonas cinzentas, há sombras e há distopia. E é bom que assim seja.
O processo de escrever este livro foi muito diferente?
O meu processo de escrita poética não mudou, no essencial. A poesia para mim vem num jorro que eu não controlo. Há uma emoção ou uma ideia, que geralmente se traduzem numa palavra ou pequena frase que fica ali a pairar, como algo elétrico que mexe comigo, à espera de uma descarga maior e eu sei que, mais dia menos dia, o poema vai "transbordar numa torrente desgovernada, imparável, de supetão", que é algo que, aliás, descrevo no poema "Terror-beleza".
Quem mudou fui eu. Eu, as minhas circunstâncias de vida, a minha forma de lidar com as coisas que vão acontecendo. O que é uma coisa perfeitamente normal e desejável. Nada é estático. O mundo é dinâmico, a vida é dinâmica, nós somos seres dinâmicos, em permanente transformação. É natural que essas mudanças tenham algum reflexo na minha escrita.
Continuo a não gostar de retocar poemas, embora sinta que estou mais seletiva e atenta às palavras e à própria estrutura dos poemas. Talvez não comece e termine sempre um poema tão rapidamente como antes. Há menos impulsividade.
Sentes que existe uma linha condutora que une os vários temas?
Sinto que há três elementos que estão muito presentes neste livro e que o Mauro Amaral identifica no seu prefácio: o ser Mulher, a Natureza (= coisas vivas) e os Sonhos.
Há imensos poemas que são sonhos que transcrevi assim que acordei. Muitos estão identificados como tal nos textos, outros não. Como pano de fundo, o tal Silêncio primordial de onde tudo brota, como a Sara Monteiro tão bem descreve no seu posfácio.
A organização do livro em temas já foi algo bem mais desafiante para mim e foi a Sofia Correia quem acabou por me ajudar a desenhar a estrutura final do livro com duas partes: uma com poemas mais leves e fluidos e outra com poemas mais densos e distópicos.
No primeiro livro, a inspiração veio das experiências menos positivas do teu passado. O que te inspirou para este?
Este livro tem poemas escritos entre 2020/2021 e 2025. A inspiração foi muitas vezes encontrada a caminhar, junto ao mar ou no mato, que são os meus elementos de eleição. Adoro caminhar e embrenhar-me nos elementos naturais é algo que me revigora. Com o corpo em movimento entro num estado de meditação ativa que estimula a criação. Isto não é nada de novo nem de extraordinário, dezenas e dezenas de escritores e criadores, das mais variadíssimas épocas, o referem.
Muitas vezes, a inspiração veio também da minha nova forma de estar no mundo, de pensar e de me pensar, de sentir e de me sentir. Dei por mim muitas vezes surpreendida e rendida às novas sinapses e sensações, dei-me a mim mesma tempo e espaço para as observar e o poema brotou, meio espanto, meio exalação satisfeita.
O poema “A Mulher-Pássaro” foi inspirado numa fotografia intrigante, que me acompanha há muito tempo, da fotógrafa polaca Alicja Posłuszna. Descobri mais recentemente que a fotografia se chama "Indoctrination", o que é muito curioso e irónico pois casa bem com o teor do poema. A atenção aos sonhos também foi uma fonte de inspiração importante, como já referi. E a vida, claro. O Cohen diz que a poesia não é nada mais do que a evidência da vida e que se a vida está a arder bem, a poesia é apenas a cinza. Adoro essa imagem.
Como prevês o teu futuro na poesia?
Não faço a mínima ideia! E isso é muito excitante, muito entusiasmante!
Nunca fui de fazer grandes planos em nenhuma área da minha vida. Sou mais de ir vivendo e depois logo vejo se dá certo. Se não der certo, os caminhos são infinitos. Penso que quando planeamos demais, perdemos a espontaneidade e eu não a quero perder.
Sinto que escrevo menos, e sinto falta disso, mas sem angústia, até porque tenho feito e criado bastantes outras coisas, muitas delas ligadas à poesia: rádio, com o “P de Poesia”, investigação de poetisas algarvias que a história quase apagou, diversas performances individuais e coletivas...
Os caminhos são infinitos, mas o tempo do relógio não. Por isso, aceito que é natural escrever menos. E mais uma vez, a vida. Viver. Ser. Estar. Quero conseguir manter essas como as minhas prioridades. Se a cinza da poesia me acompanhar, tanto melhor... Sinal de que o fogo está bem aceso!
A apresentação de lançamento do livro será anunciada brevemente. Para já, poderá encontrar o livro disponível para pré-venda na nossa loja online.